28 de abr. de 2006

um dia de olhar matinho crescendo. e como cresce o danado. cresce muito. em um ano cresceu um muro. grudou. pregado e crescendo. pros lados.
ai vieram animais, dos pequenos e dos não, acarinharam e se foram. sempre indo e vindo. parte boa virou nascedouro deles. no alto de outros matinhos crescidos. esses, por décadas. altos demais. mas ainda matinhos de espírito.
porque todo grande um dia já foi pequeno e soube como a gente se acostuma a ver as coisas de vários ângulos, desde baixo, até de cima. mas ai quando se cresce, se esquece. e rima.

27 de abr. de 2006

ouviu o segredo dos sinais. conheceu a verdade da vida. soube da formação dos passarinhos. a verdade, nada mais. um homem que atravessou a rua, por cima das faixas de cobre. um anel nas mãos de quem já se foi há muitos. e as unhas roxas no caixão. o macilento. o mais rápido, de vermelho. flecha, enfim.
no começo, da verdade, sentiu o véu sumir. ficou nu. como sempre se fica. e sentiu as pontadas das letras. correntes que embaçam a visão do z. a letra última. mas começou novamente. novidade. pensa-mente. olhou para o lado, um pouco abaixo e viu os pequenos com cara de quem não sabem de nada, porque não sabem, dando risada da cara que ele mesmo estava. uma cara de quem não sabe nada. por que não sabe? por ser. o grão demora um tempo para ficar bom, duro, na maciez exata que é necessária por assim ser. é. e, como uma semente gigante, ficou bom, macio, na dureza exata do pedido. e foi ao olhar para cima, para o v que se formava no céu, feito de pequenos sábios de uma natureza que nasceu muito mais forte do que qualquer folha amarelada, que viu. e lembrou-se de todas as vezes que foi cego. pode sentir como é importante. tudo. o cobre, o linho, a flecha. as letras.

26 de abr. de 2006

os pêlos nas pernas são o que me fazem amá-la. não só, mas também. tem também os pêlos nos braços. “orvalhada” lhe chamo. ela sorri. portuguesa, portuguesa, se te pego te escalpelo. arranco seu pêlo, a pele, e faço um abajur. aí, então, prometo só dormir no liga-desliga da sua luz.
só, produzo. só, vivo. amo só. menina linda de dois anos. dois como seu nome. s. ó. é uma florzinha do mundo que é mais feliz desde que veio só. há dois anos atrás. só. hoje há só. há lua. as noites bonitas como mel e os dias quentes como só. como as mãozinhas de só. risadinhas de rio. pó. não, só. só ela respira por aqui. ar. ai de quem com só brincar. não faz mais nada. só só.

25 de abr. de 2006

o riso saiu forte e alto. abafou quem oprime. as máquinas, o apito, o que não virá. ele pensa, pensa e não chega a nada. é isso que é, sente.
mas não. o agudo da panela de pressão é bom sinal. diz que amanhã será outro dia. nada de grave. nada de greve. nada de mais.
talvez se não tivesse passado tanto da meia-noite, fosse mais feliz. o vinho guardado no armário, as meias na gaveta. e a solidão que nunca a largou. esse caso arruinado e ela sempre no mesmo lugar. simone sem jeito debaixo da escada. junto ao vinho pensa em como daria tudo para ser inteira.
o olhar de respeito do vizinho de mesa bastou para erguer um museu de sonho bom. quis saber mais e soube. aviões, fraldas e jornal. depois, a noite linda chegou e os entrelaçou como se faz. o amor às vezes pode ser uma coisa mesmo.

24 de abr. de 2006

ei. oi. o que você ta fazendo? to separando umas fotos. muito legais. depois te mostro. acho que você vai gostar. é? sim. legal. quero ver. e hoje? vai fazer o que? hum... não sei, tô pensando em passar na sua casa e te levar pra comer comida crua. mas pra isso você teria que aceitar e...? ok. posso pensar? (risos) um beijo. até mais tarde. beijo.

23 de abr. de 2006

ea: o 69 das letras
li o poema na geladeira e vi que quero me casar com você. colocar na caixinha que vou comprar na índia e embrulhar em papel manteiga. para enfeitá-lo: flores de sabonete e as bolhinhas sendo as luzes do planeta. até hoje, nada era nada. e agora. ele, rei. em sua juba, eu que danço com fadinhas de dobradura. que sustentam as estrelas no alto. e a grinalda feita de trigo.
o amor é assim: querido. dá risada de quase tudo, mas somente para a fala de alguns. contraria e contesta. acorda de mau humor e gosta de pães quentes. não tem preguiça. mas não consegue ver um filme sem dormir um pouco. lê livros, mas gosta mais de falar deles. gosta de filme francês e da língua. e de ovo e de banana e do que for comida. e açaí e chocolate, porque ninguém é de ferro. só ele. que não almoça pra fazer força ao meio-dia e nadar e correr no parque que fica perto da casa antiga. antiga sim, pois a nova já é perto do centro, da bela vista, da consolação, por ali, ainda não tem rua, nem número, mas tem um sonho que é tocante pela emoção e pelo concreto de que é feito. é grande e é pequeninho e não consegue mexer a sombrancelha quando quer. o peito é de ouro, o coração é de manteiga. tem uma tatuagem no braço e estuda pra caramba quando quer, mas não é sempre que ele quer. gosta de conversar, da família e de gatos. o seu dia tem mil horas e ele é aluno, pessoa e amigo do mundo. e, apesar de tudo o que ele faz, ele nunca está ocupado pra mim, pois, mesmo cheinho de coisas, ele ainda tem tempo de ser amor.
os reis do deserto, da areia, da neblina. como o frio é bonito. e. por estar de bobeira, rompeu o super. super cílio. aquele master. a pestana sangrou, foram 3 pontos, como basquete. disse isso já. mas foi pra alegrar, fazer rir. festinha. biscoitinho e tals.

22 de abr. de 2006

andaram, andaram, andaram. anda, lúcia. pedi por favor. como você é devagar. pára federico. graça, lorpa.
cidade colorida, sempre com o branco dos detalhes e o azul do céu. claro sol. os dias são mais belos. estrangeira em seu país. desejo que ficou na noite, na tevê acesa, na praça. há ferro, nos postes pretos. fotos e pães. senhoras na porta da casa, suaves vidas. ainda que noite.
deve ser assim, um acordar e dormir permeado de satisfação. filhotes calmos, sorrindo para o que vê. trabalho generoso, a chance de olhar para cima e ver a graça das flores do céu. de cinco pontas.
símbolo deus de quem, mesmo não tendo escolha, ficou com a melhor. sorte de poder ser quem se é. banguelas do sorriso sem pudor que entram na água marrom nos intervalos das sombras. se morrerem, ficarão onde estão. se morrerem.
hoje de madrugada foi ao telhado da vizinha. subiu e era noite e ela no frio. a mulher lhe chamou e nem olhos deu. sim ombros estreitos de uma apaixonada pela noite. negras são. viu a lua que não havia, coberta pelo gelo da vida sua. ou do sereno. será. depois desceu, bem depois. e aprendeu: como são pequenas as coisas quando se está acima delas. rasteira, achou melhor dormir.
a imagem não sai da cabeça, como tatuagem que deve ter e ainda não sei. na verdade, pouco sei. falta ainda a essência quase toda, a cor e o momento preferido.
a pessoa mais linda do mundo tem o seu jeito. o seu riso, as suas mãos e os seus olhos verdes. é impossível não cair no encanto de iara.

21 de abr. de 2006

a inconstância de uma hora. sessenta minutos. de um minuto. sessenta segundos. o que pode haver. amores podem nascer, pessoas podem morrer. um comercial, um filme que dure. um ônibus partirá, um avião chegará, um dia. o show começa, o parto também. e o nosso encontro, que horas. e que horas são pra você. deixei de te encontrar por um segundo. foi o tempo do farol abrir. e eu passar. em branco. por um que não conheci, pois estava ocupada demais para pedir algo.
eu devia ter conversado com você. não agora, porque não dá. eu devia ter te feito dar pelo menos uma risadinha sem graça, devia ter perguntado que horas eram mesmo tendo o badalo da sé para me avisar. mas não. não sabia, não saberia, não teria como saber. me negue. eu entrei, você ficou, caiu, arrastou a vida que foi pelo ralo. impressionante a cena que deixou para nós, filhos. e sim, te amo. desde quando te vi no chão. ontem. mesmo. um amor desenvolvido por mim para você, síndrome de estocolmo por teres me violado tanto no meu mundo cor de rosa que pintado de mais escuro pelas pernas tuas.
e ondas. não esqueço. pega uma ao menos, por favor. devia ser surfista quando moço, hoje poderia ser escultor, mas o que será. espaços... não deu pra descobrir. o que será que sente, como gosta do café, será que gosta. passado. um minuto. a hora de ouro.
adianto: meu sentimento te vê como um perfeito. um cordeiro de mim. um salvador da vida minha que bem poderia estar nos canos centrais, não fosse você. é muito vermelho. como disse o vendedor de mapas, “que nem ferrari”. eu sorri. como faria se fosse eu a doendo. colorindo o mundo em detrimento de mim. santas pernas. santo deus. amem-no.
e assim foi. acordou, despediu, morreu. às treze, na onze de agosto, aos quarenta e sete. uma flecha que passou no meu ouvido, ele não viu, pegou. depois foi a polícia jogando baldes d´água e as ondas vermelhas como o mar, no chão de pedras pretas.
foi fácil, o barulho, o caminho viscoso que a água apagou.
então isolaram o local e as notícias do dia cobriram o rosto branco do alguém. devia ser extraordinário. eu não, regular. fiquei. a vida voltou a andar, depois daqueles cinco minutos sem. seu presente foi a tela e o cheiro forte de ferrugem que deixou no ar.ao sentir que tinha ido, ajoelhei-me aos pés da sé e chorei. pedi que a vida fosse menos frágil do que sessenta segundos. acordei, cumprimentei e vivi.

19 de abr. de 2006

a vida é repleta de possibilidades. linda mesmo. rosto perfeito. curvas perfeitas. até quando erra a vida é uma gata. macia e arredia. arrelia. e quando menos se espera pula no colo e carinha. num dia proibido, aparece mais uma das mil. e se passa um fim de noite agradável, a dois, e quando se vê viraram quatro. numa mesa de café. fazendo fumaça com arte ao redor e ao fundo, no fundo, sempre ela. deliciando as coisas.
e você vai embora, sem olhar pra trás, vendo o ponto fixo na sua frente. e sorri. feliz da vida. pela vida. a vida cheia de possibilidades. vai voando por sobre o trânsito da cidade. e canta. então caem os primeiros flocos de neve. brancas. do céu, das nuvens de jacob.

18 de abr. de 2006

de lado ele olha o relógio e pensa. quanta diferença. maria, do outro lado, com um oceano de vantagens reflete. e da penteadeira vê no espelho: seis da tarde. e joão lembra como é tarde. a moça é perdida, é perdiz, longe de joão. ele sente “ela volta, não?!” sou apenas quem narra um dia, uma noite de cada vez. pra ela há palco, dança. ele, luz e cor. mas o comum da esperança... pode ser amor.
faz dias vivo num terraço. já fui da paulista, de cozumel e berlim. mas hoje é um terraço e nunca fui pra lá. ainda que precise.
meu país, eu carrego no bolso da frente. ou na mala. e conheço bem, como a palma do meu sorriso.
as coisas ditas são confirmadas. ainda que não ouvidas. mil águas e caixas ruins. ainda mais quando se é desconfiada assim. e quando não se tem ouvido pra tocar.
alguém diz “há tempo pra tudo”. tempo disso e pr´a quilos e ele disse que perdeu cinco. parece que foi mais... talvez a vida tenha me feito ver de muito mais longe o que, naquela época, pareceu-me uma luz na janela do avião.
sem saber eu vi, sem saber perdi. um, dois, três, enfim. mas de longe vi, e quando de perto ouvi achei que tinham sido mais que cinco. muito mais. milênios de ternura perdida nas artroses dos dedos seus.
ay que endurecer (oquei)
mas sem perde(r)(-)(l)(o)(,) encanto.
disse o moço que a alegria da vida está no cuidado. disse o moço que nos atuais dias a felicidade reside na atenção. com o outro.
tinha o cuidado. não tinha tato. feriu será? não quis.
disse o outro moço acerca da intimidade que, por não ter, a irritou.
e o desejo ardente de um dia ter é apenas uma idéia, que, na boca do moço, do novo, na boca da alma, pareceu bem uma ironia. nem tanto dele, mas da parede cruel que surgiu entre dois.
e, nervosinha, esperneou. quis gritar com o mundo, pedir para descer as escadas dos dias, e chegar em dez. o mês. para então poder verificar com os próprios olhos e mãos e dentes qual a verdade dos mares, das conchas e do que mais quiserem.
aí sim, não haverá limites para as palavras, para os dias.
a dúvida é de morte. o sentir, de vida. ainda mais uma moça assim tão realista tão modernista tão tão tão. comunista. mas que, de jeito-maneira divide o que é seu. nem mesmo a incerteza, quiçá uma luz.
mas a dúvida é só sua. então, não atrapalhando a estadia, teve vontade de fugir. como sempre. um fugir conhecido, morno. pra nunca mais. entrar na nova carruagem e se perder. pra longe daquela voz que tantas emoções traz.
felicidade ter a idéia de poder te encontrar amanhã de manhã. tomara que apareça, como um santo de janela. prometo que vou me arrumar, pentear o cabelo pra trás e rezar. pra estar preparada para quando vier.
vou com flor e perfume para o iemanjá dourado que emergiu dos carros da avenida, o mesmo que, se a onda não trouxer, ou se não vier só, para mim, já bastou o presente da eloqüência.
deixou de ser platônico então. quando qualquer um poderia ver o sentimento gritado em azul.
são dez horas e sou mítica. metida a platão. misturo tudo. você. as bolas. me carrega para a índia, para os índios, pra lá. que eu fico. encantada por você.
em minutos terá que escolher entre o céu e a terra. cada um com seu bocado de inferno e paraíso. quis sumir. mas, incrivelmente, seus olhos-de-alice nunca desapareceram e ficam por aí. dando bandeira. e ela so tendo que se encolher.
cidade de deus lindo. não um deus qualquer. em companhia de maria. maria. nome comum de espanhola. de brasileira. de mulher.
a frida alemã. maria que não aceita mentiras. apesar de ser parecido. não é igual. maria da luz. do enrosco. maria de mim. perdão. menti.
ela disse que o seu amor é do tamanho do universo. e eu tentando achar rimas.
tudo fica tão pequeno perto daquilo...
então conversamos no silêncio do mel e da madeira.
oquei oquei a vida é um jiu-jitsu. não se pode nunca abrir a guarda.
lótus minha. surge da lama. superação. gesticula ao falar. parece surda. mudo fico eu. como caranguejo no mangue. que olha, olha e só olha. e, na distração, abraço. e me abraça. quando me distraio. e faz de conta que não é nada, que é da forma do lugar. aperta. esmaga com suas patinhas. mas não sangra. protege no quente do chão. e promete que um dia volta. volta pra mim, pro chão e para a lama do seu seco. meu seco. e ascende.

16 de abr. de 2006

foi sorrindo que se foi. se foi. perdeu a juventude ao olhar para trás. o sol que veio depois da chuva. realizou o sonho de ser viúva. sempre quis ser uma. doida. varrida. direto pra debaixo do tapete.

15 de abr. de 2006

magicamente o retorno. satisfação. um saciado e o outro cede.
no canto oposto da sala, a senhora canta música doida, dos que não têm uma vida sua. e vive sobre a sombra dos demais. um passarinho que são muitos mais, fica(m) do lado de fora dela e a alma sente esse apoio dos mils. pios. santos. ave.
quis te encontrar e procurar com você uma daquelas plantas que a gente assopra e ela some. quis te dar uma para você assoprar e me carregar junto para qualquer lugar. desde que com você. vou-ar.
escultor de palavras. delapida. de lambida.
não quero ver a febre abaixar. belo dos olhos de mel. lábios frios. foi quem descobriu o quintal nosso. américa.
nem mil anos podem separar alguém de alguém. qdo se deve, oras. a seca fez florir. os bichos são acessórios, pouco pouco mto pouco.

desejei vê-lo no escuro. tocar o canyon do peito seu. e me enlaçar.
maxilar de cavalo. ombro pintado.
começou a contagem. um dois fogo.

depois fui mulher líquida, passando debaixo da porta.
formei cataratas nas escadas e desaguei no jardim.

então fui mulher em pó. farelo de gente.
não. não bebo. como com farinha.

poderia escrever por horas mas não sei rimar
só sinto. e me aperto para caber entre as linhas. enfim, o elefante do lugar.
e o pior é que aqui na cabeça tudo é natural, tudo é coerente - corrente
mesmo aquele de um dia não sair da cabeça. mesmo isso.
arrepia e anda de lado
bola. barriga
pêlo. preta
corre pelo corredor e carrega a alegria em suas pantufas delicadas
sobre nos móveis e deita ao sol do inverno que não esquenta nada
mas ela não precisa
porque já é quentinha o bastante.
mi( )a( )more
esaú e jacó e flora e peulo ou paudro ou pelo ou paudro ou peulo ou padro machado maluco assim seams prafrentex so ele assis.
confunde. para isso existe. liga um, desliga o outro. age sim e não e sinão e não e sim e nãosim. e são 6 da manha de ontem que ainda continua para mim e eu aqui.
afasto-me como se nada fosse. arrumo as minhas coisas e vou embora, sem dobrar a fantasia. veja bem. sem dobrar. vi de longe, lembrei do paradoxo e corri para fora da janela para ver o que restava de você.
a linha da minha mão revelou-me o que eu já sentia muito antes disso. senão, por que pensar tanto? uma linha pode enforcar alguém... as da mão são cordas mortais. quando se crê. como eu. como você. nham nham.
não acredito em linhas (não nessas) e sim em mãos. em seus poderes, de comer, criar e destruir. por e com. aí creio.
mas quando aponta nessas linhas ímpares a morte prematura minha, custa-me não acreditar. e paro de pensar. para não morrer aos 21.
todo obra de arte. assim é té. o dia-a-dia, os movimentos. o sorriso que aperta o olho e o coração meu. derrete-me. eu olho. fazer o quê.

água corrente. risada de guri. a natureza, hoje, mais perto de mim. pedra, areia, só falta o verde. irretratável.
mas logo vem. quando o lugar for meu. quando me encontrar. sabe-se. só sairá de mim.
já ouço riso de criança. pós-de-arroz.
ela. abraços por gritos. queria poder errar aos seus olhos. quando foi que mesmo sem culpa me senti assim pela primeira vez?

na sala, pessoas. falando falando. eu, só. ouvindo a alma minha. sozinha. dentro, fervilha. estação. pessoas e sangue fazendo baldeação. decolou junto com a cabeça, mas os pensamentos não encontraram porto, porta, e fixaram-se no papel branco com bordas azuis e linhas. muitas linhas. varais do passado.
do mesmo cinza das luvas que uso para combinar com o céu.
quero sustança.
tiro as luvas e pergunto: será que ao passar derramo tintas? como posso cobrar se não pago? com luvas vestidas me sinto boa, quente, hipócrita.
quando se come, é de bom tom, despir as luvas.
a luz do frio faz enxergar melhor e eu, pronto, volto a vesti-las.

vou embora desse lugar cinza repleto de pessoas de preto que não enxergam outras cores e é agora. cores lindas demais que sinto como se minhas fossem, tão minhas, incrustadas nos meus olhos pretos – a soma.
ao chorar, molha o chão e ao molhar a terra lembra. do cheiro da terra depois da tempestade. lembra das minhocas que partiu, com a faquinha de cabo laranja e sem ponta. “galinha-sem-pé”.
sente falta de laranja.
trocar tardes por minutos. sós. ao sol. olhar a letra bamba.
antes, burocrático, sem a dose que lhe cabe. loucura. energia: me traduz: motorista da montanha. arco-íris russo, de cabelo molhado, olhos vermelhos. de maçã vendida pelo operário na porta da escola.
escreve porque deve
senão os pés inchariam
e seria um balão no ar
navegando pelos céus
de terceiros.

11 de abr. de 2006

quero te dar um gato. com toda a tolerância e sem perguntas demais.
loiro amor. o que é sem nome. o aqui e ali de sempre e de outras vezes. rondando, rosnando, miando. e a dúvida que se abate sobre meus cabelos escuros.
queria constatar que pode ser doce, ainda que claro.
não sei se quero a guerra. sei que quero a cor amarela, o barulho e calor. que me faz rir de mim e de toda a minha aparente normalidade.
sou a dona da verdade que só agora parou de se enganar. e os olhos que ao sol clareiam e tiram a minha paz.
estou variando
acho que é o calor que não me deixa.
mas talvez seja você que se foi.
debaixo da escada todo o papel se acumula.
a louça dentro da pia
a tristeza em mim.

acho que é o silêncio que me embrulha
ou a sua falta.

pode ser também o sol.

ontem fui à feira e ele me derreteu
quando nos vimos, assim, de relance
e eu quis morrer e me arrepender até que as plantas brotassem em mim.
te ofereci um ramalhete de feira
é
esse calor me fez variar.
eles cantam lá fora mas o relâmpago está comigo
o dia é claro mas meus olhos não suportam o excesso de marrom que o dia traz.
foi do céu ao inferno em um mês e um dia
tudo bem e no outro sinto a trovoada que fez com que derramasse água de mim
uma gota após a outra
água
choro a tristeza condensada no peito
que nada de doce tem
e esse céu azul de brigadeiro...
antes a vida não era assim
agitada. é louca
diz que por mim
maluca
ligada na eletricidade que produz não se sabe de onde.
precisa de alguém que a coloque no
colo e a acalme por cinco minutos
antes de sair por aí em disparada
menina foguete
dos olhos de luz
diz que quer ir à lua comigo
e eu não duvido

9 de abr. de 2006

o barulho é toda fibra se partindo e eu indo embora. te deixando com as vitaminas e toda a louça suja.
pimenta. brinco com ela e sempre sobra pra mim faísca
a língua derrete qualquer muro, apesar de morar num lugar sem janelas.
o gosto do doce que você me deu aquele dia fez com que me inclinasse e veio o amor
quero bem como água de coco e o beijo de maçã.
ouvimos a cenoura e dá vontade de morder
meu mestre de blusa de flanela
mal sabe a quantas anda minha vida por causa dessa mania sua...
mania de elogiar toda coisa que deus te manda
docinha
faz graça de graça
só pra me ver feliz
sente orgulho quando me vê nesse estado
de graça
por culpa de suas mãos e de sua boca,
de vc que cisma e implica
irrita, complica
e depois monta em mim e me metralha com seus beijos de misericórdia.
se faz de desentendido e some por aí
tal qual a fumaça do cigarro que eu quis acender e vc não quis por eu não fumar
minha felicidade e loucura
foi embora assim, como veio.
em silêncio. sem atrapalhar
morreu um dia entes da véspera do feriado. nem nessa hora quis incomodar.
comigo fica a culpa, o dever de ter feito mais e o fracasso de não ter feito muito.

comemoramos a morte comendo carne no restaurante caro bebemos vinho e brindamos a nova vida dela e nossa sem ela.
fico aqui vendo a chuva cair, o vento balançar e penso em como queria ser vento um pouco.
vento que entra em qualquer lugar. no pulmão do menino que me transforma em gás.
vento é fruto de criança no balanço. e é por isso que quando bate um que embaraça o cabelo a gente fecha o olho e sorri. todo mundo um dia já foi mãe de vento. tem até gente já crescida que ainda é.
queria ser é filha do vento. que é a felicidade, o que o vento faz. é o olho dos pés à cabeça que envolve como música.
toma forma do que quiser.
cortou as unhas na esperança que a aspereza fosse junto pro lixo.
sorriu ao notar que as pontinhas grudaram no tomate estragado que já estava lá.
tomate é ácido. apesar de não parecer.
cortou sem passar acetona. as pontas vermelhas, na fruta da mesma cor, mas não do mesmo tom. e a acetona.
então entendeu. que a vida é muito mais do que cores. as nuances são o que importa.
sorrisos de coimbras, portelas, sardenhas, mestres, maoris, chilenos, portugas e todos. ao lado seu, muito mais que isso. sorriso de vida feliz a dois a três a mil em show de roque. somos nós, no meio da multidão e, contrariando o mesmo poeta do olho caído, da terra que virá pois nossa será, lá de trás dos montes, sim senhor, o sentimento é todo, menos solidão. somos a multidão no meio da multidão. juntos somos mils, e seremos. carinhos ao vento. coisas mágicas e lindas. velho continente, paixão antiga, amor eterno. assim será. com médias e sem média. sempre fomos acima.
a idéia da voz. o som do sorriso. o peso dos pensamentos. o valor do carinho. isso é deus.
caixinha de música. amor bailarino. meu, querido, babe.
a música que quebra as minhas pernas e concerta meu coração.
esse mesmo um. q eu amei a vida toda, mas paramos. fui obrigada por mim mesma. mas o tempo nao me deixou escapar das unhas roidas dele. e eu nao quis. e nao vou.
quando eu brotei do chão, achei que fosse sorrir. mas não. gargalhei. e senti que a vida pode realmente ser bela quando se brota do chão. ao ver a luz de fora do marrom dá pra se notar como ela é azul, e amarela também. é bom olhar pra cima, pra frente. dá vontade de andar e correr e voar. assim, nessa ordem. e as pessoas passam e eu também passo e só ele é quem voa. e voando dá vontade de fazer voar também. e faz. e a gente voa e tal e coisa e coisa e tal e quando vemos estamos com fome. tomamos banho de água e beijos e depois almoçamos. vida boa, jão. é fácil sim.
eles tem dois. um preto, um branco. só para variar a vida e os olhos de quem vê. acreditam que são espelhos. opostos. os gatos. os dois. vivem uma felicidade simplista e simples. no oi, no beijo-lambida, na briga, nos minutos. lembram bem de quando comemoraram um ano de vida. os gatos. os dois. foi há tempos atrás, eram novinhos, novinhos, filhotes de tudo. hoje os olhos cansaram, mas variam a vida de quem os vê, brincando ao sol, como há tempos atrás, quando tinham apenas um ano de vida. os gatos. os dois.
ninguém avisou que as coisas mudariam tão assim. de repente. cansada de se lembrar do poeta quando diziam de repente quis fugir. e foi para santa tereza. no rio.inevitável naquele estado desassociar tudo ao poeta do de repente. e mudou novamente. foi para palmas. e bateu. e apanhou. e só depois de muito conheceu o índio pintor. de paredes, sem poesia. persistiu.
e era lindo andar pelo rio, o outro dessa vez, com seu peri. sentia-se como se fosse livre. pela primeira vez. uma vida de índio.
nu ele pintava as paredes de cores que não existiam, não em seu estado. mas ela não suportou a pimenta de seu amor.
e matou. sem mais bons dias ou outros bons. antes, quis morrer. e matou. se.
o índio, das paredes foi para o quarto, para o quadro. e a primeira tinta que usou para manchar a tela branca foi o sangue daquela que fugiu da poesia e acabou encaixada em uma em forma de pintura. de repente, não mais que de repente.
signos satisfeitos. os olhos de um, focinho do outro.
semblante feliz.
amizade, namoro, noivado e casamento. nessa ordem. propaganda de margarina.
ele lindo, ela linda. padronizados. patronizados. carro do ano, bolsa do mês para ela e do dia para ele. que felicidade.
primeiro um filho, depois outro e mais um. tricampeões. varões. no verão seu destino será a europa, o parque de diversões que tem por la. para depois mostrar para os amigos como é que se faz. assim.
no dia seguinte de tudo, quando acordaram de tudo, muitos séculos depois, chacoalharam suas cinzas e foram jogar buraco.