10 de dez. de 2006

Circulo. Circulando. A letra dela é re don din ha, o amor era redondo, seus quadris
Ah!lice, que bem que te quero
Lançou-me ao mundo de letras palito e tua letra, Alice, é tudo o que preciso. A sua lista do mercado, seu modinho de escrever.
Não como mais. Espero maná cair.
Sem papelzinho na geladeira, melhor assim.

Natal vizinho, lembro da letra no cartão (eu sempre fiz questão).
Caligrafia farta, teus seios.
Apaga amor, apaga que eu te dou as penas, todo o travesseiro que sinto de mim.
Voa pra mim: rolando vem Alice
A falta do meu nome no ouvido. Falava-me ele por inteiro. E era eu, silente, sentinte do calor das suas cordas. Vogais pela casa, como jornal que era eu a recolher.
Agora tenho silêncio na orelha e leio na cozinha.
As letras, cinco, jogadas pelo ar, na ausência do som.
Nunca mais meu violão, as meias dentro da mala. Queria falar de ti, e, sem querer, como algo desassociável, falo de mim e desse partir-me em mil que persiste em insistir em ser presente.
Seu dia passou, eu esqueci de mim jogada numa gaveta qualquer da estante do ser só (que nem gavetas têm).
(i)
Ao aguardar o dia seguir
Ao aguardar o toque do peito sentir mais
Esperar
Tal qual senha em repartição.
Peguei seu nome quando nem sabia o que queria
Um querer em forma de instinto
Somos mamíferos

O mamífero dá a luz carregando criança por dentro, toma leite e é coberto de pêlo pelos lados.

(ii)
A cigarra barulheia
Seu histerismo está dentro de mim, minhas patas
Acendi o meu último cigarro mas não é hora de parar
Esse ardor auditivo dentro comendo meu cérebro, bebendo meus sucos
O dente da cigarra, a serra
Sabemos, eu e ela, que o som não sai da boca sua. Mas de onde?
O para-onde se endereça ao meu ser. É belo.

(iii)
Penso e não acho resposta para a pergunta que nos envolve.
Por que o medo da chave?
É um objeto sem cor, cheirando a ferrugem.
Você nunca tocou na minha.
Quando te peço para passá-la para mim (como sal em mesa) e você joga o guardanapo em cima dela e, só assim, me dá.
Seria maldição e eu não sei?

Sei que o sapo falante não podia contar à rainhazinha sobre sua condição. Ao jogá-lo na parede foi que ela viu garbo e elegância surgindo do sangue de sapo esborrachado no branco.
Eu retomo o meu temor seu.
Tremo de calor ao terminar o dia.
Amanhã, talvez, queiras ter a minha chave nas mãos e queira-me entrar sem sair.
Princípio.

(iv)
Homem que te quero barba ro
Sua que quero me molhar
Olha para mim
Eu espero a hora de ser sua mente corpo sal
Partitura
Por mim dura o tempo que o sentir dá
Saudade das suas linhas negras, seus jogos de entreter.
Saudade do som que faz ao surgir do branco.
Saudade.
Sinto pelo sumiço meu, mas, sabe como é, as coisas são assim mesmo e não duram o tempo que se quer e sim o tempo que duram.
Ache-me simplista antes de me procurar.
Eis-me.
As laranjas laranjinhas... Nada. Bom é parar de inventar. Sempre foram é verdes e de gosto bem ruim. Lembravam limão.
E não eram lima.
(i)
Tive um belo verão, mas não por conta do sabor das laranjas que caiam no meu colo. Nessa estação, o vento balança com força. Caem as maduras. Pego-as somente assim, pequeno eu.
Aos 7 não se pode subir degraus sobrepostos sem se machucar ou sem alguém gritar sobre o perigo que é.
(ii)
E depois, no frio já, reconheço no ar o cheiro que tinham os móveis da casa da minha mãe.
Nasci do feltro que ela passava sobre a escrivaninha de madeira escura.
E ela ria, ria, ria ao dizer que aquele creme era o hidratante de árvores.
Ela sempre foi bem engraçada.
Pena que não a conheci. Sou só de mim.
(iii)
O abril que chega com seu sol e o meu vento que lembra a fruta do quintal, a cicatriz no joelho esquerdo, causada pelo deslize no macio pé de laranja. Ou era limão?
Aos 70 não me machuco mais, sou avô de família, poupam-me de tudo o que é natural.