24 de nov. de 2007


Quando eu saí do seu prédio você estava lá, de peito aberto, debruçado na janela.
Eu, embaixo, entrei no carro. Antes, levei os dedos aos meus lábios e joguei-lhe: dedos apenas.
Pelo sorriso seu, do peitoral, pensou serem beijos ao ar.
Lançou-me mil e eu, desviando.
Daquela noite sem beijos.
Noir.
Não tenho prazo.
Não tenho pressa.
Vivo.
Sem empurrar.
(i)
... e teve uma noite de chuva que ele me ligou pra contar que estava sem guarda-chuva mas apaixonado por mim.
Gritou que somente apaixonados não ligam de tomar chuva.
Ligam só pro sentimento que os protege. Enquanto durar a ligação.

(ii)
Mais velocidade e olhos furando o azul na rapidez nunca vista do claro com cores da calma
Linda massa que me engole e ouço, além do som de sempre, um auê metalizado: gotas da chuva no teto

(iii)
Não sinto um pingo de saudades suas. Sério.
Poderia passar outros seis meses sem o zzz do seu blusão de nylon.
Saudade só do sol, do seco.
Em São Paulo só chove, essa cidade tão cinza, é o que dizem.
Pra mim só falta o sol. Queria de volta.
Saco.
Quando eu era menor era fatal. Dedo em forma de revólver e pá: um morto no chão.
Pá-pá-pá. E eram três.
Vida de soluções...
Mas as unhas cresceram e foi só pintá-las que, do revólver, nem fumaça sai mais.