31 de mai. de 2006

Uma felicidade em sacos enormes, enormes. Um balão sorrindo de longe, ao longe, ao longo de uma vida toda. Sempre por trás, mas ora pela frente, sempre um sempre fantástico. E a lua de hoje tão fininha que eu digo que soube uma vez que a lua que mingua é a unha de deus. Lembro bem do que pensei quando ouvi isso: que o mundo é uma coisa maravilhosa mesmo. Maravilhoso por nos dar a oportunidade de sermos contemporâneos a outras tantas coisas e pessoas maravilhosas. Por deixar com que a mente faça o que quiser com o seu poder único de ser líquida. Por podermos falar por meio de gestos, letras, barulhos, fumaça.
Sim, esse nonsense todo tem muito sentido para mim, mesmo. Penso em zepelim, penso em mim, penso nele, penso neles, nelas, nela, nos outros, nos de lá, nos daqui. E a unha mágica de deus continua a nos apontar o caminho do bem, como sempre fez. The long run.

30 de mai. de 2006

29 de mai. de 2006

Artinhas feitas de chuchu. O chuchu tem pequenos pêlinhos ao seu redor, parece pneu novo. Pêlos verdinhos e espinhentos. Aí se espeta mais quatro palitos de dente, de dois em dois, e têm-se as patas de um cavalo de chuchu ou de uma égua, pois, em se tratando de chuchu não se pode falar que o verde é de menino e o rosa de mulher. Não existem esses legumes em rosa. Aliás nem sei se o chuchu é um legume porque vivo num mundo em que o tomate é uma fruta. Tsc tsc tsc. E as pessoinhas, feitas de batata. Com palitos também e sem pescoço. As gentes sem pescoço são como as de batata. E batata é um legume, mas que tem amido (essa eu sempre soube). Desde o tempo em que eu e o meu irmão do meio ficávamos fazendo experiência com o brinquedo de química e jogávamos o liquidinho na batata e as coisas ficavam azuis. Um bocado estranho.
Mas não tanto como o outro experimento da época. O nome era “sangue do diabo” e era um líquido também, só que rosa muito choque, que você jogava na blusa branca da sua prima mais velha que já tinha peitos (e muitos, aliás) e ela ficava uma arara. Até descobrir que aquilo ali não manchava e, muito pelo contrário, sumia com o tempo. Mas já tinha dado tempo suficiente pra você (ou ele) terem apanhado muito. Sim. Mas aqueles tapas sem dor, porque não existiram.
E você lembra que tem uma tia distante que quando era recém-casada perdeu um filho ainda na barriga, mas já com idade pra se dar nome. Essas coisas. E histórias como essa te marcaram por uma vida, literalmente, que te faz sempre gostar dessas pessoas, por piores que sejam, desde que tenham algo de aborto, como chamam. E eu me lembro de como eu me sentia quando vinham com esses assuntos, antes diziam que havia pé descalço na sala, mas aí eu olhava pro meu sapatinho vermelho de boneca e pensava nas minhas. Bonecas. E em como seria se um dia eu ficasse muito grudada nelas e elas sumissem. Seria algo assim, como um fim. Mas a cara da minha mãe falando da tia longe era tão pior do que perder bonecas, que me vi obrigada a rever os meus conceitos sobre sapatos, tias e sobre sangue.
Foi então que lembrei-me do chuchu, esqueci do legume, peguei os palitos e entrei na boemia jogando palitinho. Meu tio, um outro aí, queria ter um bar ou teve, não sei, e sempre me disseram que palitinho era coisa de submundo. Então eu virei campeã de palitinho, sabia blefar e tudo, mas o reflexo disso ficou em mim, guardado em alguma gavetinha de criado mudo, porque eu desaprendi a jogar, e hoje, nem truco jogo mais, e não sei mais blefar.
É isso, por enquanto.

28 de mai. de 2006

Não gosta de perguntar o que não sabe responder e não gosta daquelas perguntas que apenas exibe o perguntante e testam o perguntado. Acha que isso não se faz. Não sabe escrever na primeira pessoa, acha mais fácil se ocultar por detrás do ele, do tals. Seus olhos ardem por terem visto ontem olhos claros demais numa moldura preta demais, nova demais e fraca demais. As nuances da vida são o que realmente importam, fazem os afins se encontrarem na mesma sintonia, como no rádio. Espírito livre aglomera polvilhos. Hoje fala mal mesmo e entende que pode porque está na fase em que a pessoa pode tudo, até mesmo falar de si e mal dos outros, de tudo, de todos, assim. Passou muito tempo (e perdeu também) pensando sobre os espelhos, hoje decidiu quebrá-los, todos, fazer uma farofa de praia mesmo, no início. Não vai e ponto final. Cada vez mais o velho sabe o que quer e como quer.
César e Ana se conheceram no hospital. Irmã de um e amigo da outra tiveram filha – Cristina – em primeiro. Dia de gente boa. E em seguida a cidade perdeu a luz, blecauteou em plena onze da noite. Ana Feínha, apelido dos dez e César, Augusto por força de batismo.
Mas amor não se traduz, só é contado por quem nunca viveu um. E na escuridão disso, daquele julho, um beijo daqueles, de cortar a barriga e fazer viver. Ana e César.
Gosto do seu jeito de respirar. É com barulho. Seu nariz não funciona perfeito, mas seus olhos são desenhados com nanquim. Índio, o que houve. Onde ficam as lembranças quando se esquece. Sinceramente, onde está. Recordo-me muito pouco. Como pude ser tão negligente com isso. Lembro-me da sua dor e de notas sem nexo de uma fase de luz, uma casa, sacos, um carro a diesel amarelo ouro, uma prancheta, uma rede. Como vai. como estará o que foi.
Uma tristeza que vem sempre. De quando em vez. Transborda do branco da minha alma liquida. São fôrmas ovais, sorrisos magistrais. E asas, gigantescas asas de pássaro roxo, translúcido de líquidos cítricos. Demorei uma hora para saber o que viria e como.
Passo anos lutando com. Não consegui. Até hoje ao acordar em dois. Dividida. Um copo de cerveja vazio. Um corpo e um ser. Uma casa de ar. Colorida com cores primárias. O vermelho, um útero em si. Num mundo cão minhas cãs. Por isso tenho uma gata bem preta que mia e sorri. A única da espécie.
(Possibilidades)
Gilberto dançando no chão, sorrindo no ar. Ilumina o piso e eu fico besta por querer tanto saber o que há por trás da gentileza e da calma. Deve ser belo, ainda mais. Jardim iluminado com o que ama. Não cabe em mim a hora de te sentir entre abraços, presença de perto, bem perto, quase tocando, e, finalmente, tocando. Poeta e pintor talvez e deve sentir de vez em quando todo o peso da tristeza do mundo em si e chorar por isso, mas, em seguida, ser feliz por se aceitar e aos outros. Deve sim.
Então os pequenos vão pulam na cama de manhãzinha. Você me acorda em maio e eu te desperto em agosto. Vem, ajuda-me a viver as horas suaves ao seu lado. Vou vê-los por horas e descobrindo aos poucos, aos anos, um jeito seu aqui e outro meu ali.
(Religião)
Vou cuidar pra sempre de você, enchê-lo de flor, meu amor. Beijar seus olhinhos, cobri-lo de linho e de ouro, de sereno, de rei, eu sei: te amo há tempos. Quero me dedicar à deus e ao bem e a você, meu bem. Colocá-lo no colo até dormir e acordar me chamando de bela. Como soa bem a sua voz em mim.
Eu rezo teu corpo e comungo tua alma só para me purificar. Amando como nunca, adorando como sempre, sigo devota.
Estava ao seu lado quando sumi desse mundo: você me deixou pois não quer. Paciência, ironia e risos. E sinto que meus olhos ainda querem, mas de um jeito moreno e a música pára por aí, sem você, nem mim. Diz que tudo está bem, mas não, cadê você. Discute de mim sobre a maneira de agir: como sou, como é, qual é. Te chamo para ver o mar, o meu que eu cresci ouvindo, onde passei um bocado de minha vida de antes. Te quis lá, por um dia, mas cadê coragem de pedir. Bem pra você que não diz palavra mas disse que eu sou bem louca e que bem louca é quem adora e quer bem. Eu fico e só quero uma música e o teu lençol.
A menina que cresceu e quando foi mulher não sorriu. Achava que a vida não seria assim, que seria feliz. Pensou com força e lembrou de ter ouvir dizer que a felicidade não poderia existir nela enquanto fosse menina. E lembrou de como lutou para crescer, para enxergar a altura que via no espelho. E de quando notou que não era mais uma menina, era uma mulher. Se melhorou por amor. Amor a ela mesma ou a alguém. Porém, quando cresceu percebeu que tudo o que tinha ouvido era uma grande besteira, besteira que cobre o defeito do lado. É muito mais fácil apontar como sempre tinha feito, mas agora faziam com ela, mas até que foi bom.
E, voltando ao presente, a mulher soube a verdade: a felicidade existe sim, mas só para quem quer. E para a tristeza sempre há um culpado. E, naquele caso, naquela cena, naquele quadro, a culpada não era ela da infelicidade do lado.
É muito duro quando se gosta de alguém nesses termos. Foi quando a mulher resolveu sumir do mapa. E morar longe, e sobreviver e aprender a tocar violão de verdade e a ser a melhor mulher que há. E nada a derruba.
Sente uma dor no peito por sentir tanto. Mas esse é o modo como sempre se sentiu, com ou sem. Com a diferença de ter uma esperança única ao lado. Uma esperança que, obviamente, morreu somente depois dela, como boa esperança que era. Jaz.

26 de mai. de 2006

(Estória de Nada)
Nada cara de arroz. Quereu morar na praia, quereu e foi, mudou, se foi, ficou uma hora, se isso, e voltou pro centro da cidade sem mar. Nada pros íntimos sorri sem dente nenhum, chupa pão como se fosse um bebê. Escova os dentes com cachaça da cana que um dia alguém plantou e outro alguém destilou. Nada sabe fazer. Nem morar na praia. Quando viu aquele tanto de água mole, tremeu um pouco, feito vara verde. Então fez um teatro, fingiu que enjoou e pediu para que o deixassem na estrada que leva pra casa que ele não teve. Nada sem família, nada que não. Quando ele voltou, ficou calmo e feliz pra caramba e disse obrigado.

24 de mai. de 2006

Nesse frio de viramundo ficou olhando pela janela. E ouviu dizer que escreve como se tirasse fotos. Parabéns pra quem viu. Ouviu falar do aniversário número mil. E hoje é o seu primeiro ano.
Como da vez que não conhecia ninguém no meio daquele mundaréu de gente pequena e fez grandes pessoas de vida. Lembrou de ter chorado por se vir obrigada a sair do carro preto que os pais tinham. Mas saiu e, no final do dia, até que gostou. Notou que o seu telefone é hoje repleto dos nomes antigos, desses do primeiro, até hoje. Nome de nome-e-sobrenome. Lia Santos, Vitor Brandão.
É seu primeiro ano, como da vez que, já de ônibus, entrou no meio daquela gente grande, andou pelos prédios velhos e não entendeu nada. Se questionou dos porquês que a idade lhe fez carregar sem voz por anos, até ali, e achou que amava. Então odiou tudo pra no fim, gostar. Mas não no mesmo dia e nem do mesmo jeito. Um verbo entre parênteses e que veio só depois que passou.
Hoje não é diferente ao ver o trânsito pelo vidro e o frio. Tira fotos, mais fotos. Gostou do que disseram. Lançou-se do terceiro andar para um tempo de primeiros anos.
Como aquele seu, que nem se lembra, mas que sabe que foi ele que lhe trouxe muita coisa que tem. Talvez os erros. Mas certos também vieram. Quando vivia em casa, nas tardes e nos dias, porque as noites eram feitas pra dormir cedo sendo colar de pai na cozinha.
Depois que as pernas ficaram cansadas, por virtude do muito ver, sentou. Mas o calor das imagens no negativo branco ainda estão ali.
Passo o passo no talco e sambo soltinho. Minhas coxas lisas pelo pó. De sainha, eu vazo. Vou mi´mbora desse lugar. Tenho muitas coisas pra fazer ainda e aqui já deu. Não eu, que escolho a dedo. Eu vou é dançar em outra freguesia.

23 de mai. de 2006

(Milemtrês)
- Irritante o seu jeito de escrever. Sempre a mesma coisa, ´inda que de cor diferente. Você e sua caneta-mil-cores. Vou quebrá-la ao meio pra que você fique muda e morra.
Chega de imagens, de luz e cor e chatice. Você cansa e me faz dormir mal. Os mesmos adjetivos, o mesmo ritmo. Não é à toa que ela se matou. Foi você, a tua mão naquela garganta sangrenta. Você e a sua maldita caneta-mil-cores que ela enfiou goela abaixo.
- Ismael tem um sorriso lindo. É um Monalisa, só que com mil fios rindo encaracolados.
- Hoje é o meu milésimo aniversário e, apesar do ano, o meu não é regular. Não dura tanto e às vezes dura muito. Agora são 00 e18 há tempos, e ainda dizem que depois deles voa. Mas hoje, como demoram a passar, sinto o tempo parar no 19.
A função da maquiagem é deixar Maria menos cansada. Só Maria. O inventor dos produtos pensou nela, só nela. E em todas as marcas que um dia poderiam surgir. O lápis sempre preto na morena Maria e marrom na Maria Clara. Os lápis que Marias passam nos olhos deixa um caminho torto pela cara. Pele escura tem batom especial. E o labirinto sai com água como as coisas que saem com água. Tem também coisa que não sai com água. Nem com bucha. Só com produtos especiais. Acho que Carmem teve um caso assim. Um homem desses que nem com sabão saiu. Ficou algo, ainda que bem fraquinho, uma linha cinza envolta dos olhos pretos, um leve rosado na bochecha e a boca vermelha-carmim.

21 de mai. de 2006

Estava na praia e brigamos. Saí pra andar e ouvi com incoerência, uma mulher tão linda e tão sozinha, e era eu enquanto você corria de nós.
Pedi, por favor, uma última e derradeira chance com gelo e limão. Durou o tempo exato de derreter no copo, sobrando a fruta azeda. Chegou e não deu. Talvez eu não tenha dado o tempo, chegado a tempo, ou tenha me atrasado bastante, anos, décadas, vidas.
Não basta mais o prazer de minutos da fumaça. Precisa de caixas - com vinte, pacotes - em padarias e lotes - de mim. Afirmo, antes das dez estarei na estrada. Espera-se conduta, leva-se pedra.
Se me jogasse no rio afundaria em um segundo. Bolsos cheios de peso. O cérebro leve, em forma de pasta, patê de neurose.
Sou a criança mais alta do jardim, mas estou de férias e isso é bom.
Teu rosto nem é mais tão espetacular como era. Muda eu, mudo ele, e cresci uma samambaia por dentro. Supero, espero, um pouco, o coração não altera sua música por nada, só por si, por samba, por xis que tritura as pedras do meu bolso, viram pó-de-rocha e eu, ainda que nas cataratas, bóio. E circundo os fatos e me despeço desse pequeno pano, mísero-sem-visão.
Ouve fado com força, lentamente, dolorindo, lindo. Falar alto é o sangue da vida. Um tom seu, destruidor por entre cordas e sotaques. De onde vem tudo se há no filme e sente no colo. Ondas e marés e seco. A fonte secou e as fontes não secam. Só se salgadas como casa de Tiradentes. Mostrou-se da cor da palha pelos fatos e só no conforto e na noite. Sentiu-se no meio do nada consigo. E as coisas por fazer e as fases. E os esses. Vontade de chorar que surge do nada. Minha nelumbo nucifera, ajuda.
Os olhos pesam mas tenho gramas. Braços ocos que bóiam nas profundezas do ar. De costas vôo. Percurso misto de esquadrilha da fumaça com beija-flor. Com conteúdo sou bolsa de sorrisos. Para não me perder os largo pelo caminho, o que não me serve de nada pois nascem e correm para outras bocas sem. Confundo o texto da triste alegria e da alegre tristeza. Meu texto, homem. Ambas vejo, paradoxal, realidade dura e macia pois acontece. Beber é dor e flor, desse modo, mastigando a água. Ambas, uma ao lado da outra e ligadas pela mais linda vogal bailarina. E.
Qual o grau de reflexão. Um mínimo bastaria e os parava.
As horas passam, vou por esquinas como as horas. Devoro-as e do jeito delas.
Por que tanto ponto e letra miúda e a fome de contrariar. Quem pensa que é eu? Divirto-me na calmaria das horas simples, de sessenta. Cegos-mudos que seriam o fim sem escrita, sem canto, sem ouvi-los falar. O cantar: escrita em três-dê, e, a aliteração da música, vira escrito.
Queria tomar banho cinco vezes por dia e cantar para mim às vezes, naquela acústica toda de azulejo, além Tejo. Te vejo de luz lilás. Palavras de outro bailarino, éle, maior que o pequeno e-vogal. Consoantes desde que conformes.
Consumo as linhas aos poucos e mexo os teus quadris ao som do som. Delicio. Silencio e ainda sobra para cantar e escre-vê-r-la. De lápis. A.
Não gosto do inverno porque ele endurece a tinta preta que vive dentro da minha Bic. Por isso prefiro lápis e verão. O preto só volta ao normal depois de receber abraços calorosos, a caneta desliza pelo papel feito bailarina no palmo. Um caderno de folhas destacáveis e não descartáveis. O que difere é, em um, a possibilidade, noutro a obrigação. Animo, escrevo rasgando as de ontem, colibrindo sem memória, apesar de não gostar de aves que não cantem, beijo a flor e tinto em preto a paz.

20 de mai. de 2006

As pessoas pequeninhas perto da imensidão. O mundo-mundo-vasto-mundo. Chamo-me Marcela e é uma coisa. Uma solução para um mim mesma que acorda sempre no mesmo dia em que vai dormir. O sono que sempre está, mas que não domina. Às vezes me perco nas chamas dos olhos meus. Que sentem demais. Não, não, olhos devem ver. Os meus sentem, coitados. Feliz de mim então. Ou de quem vejo e de quem não também. E de todos, por sermos vivos e contemporâneos aos momentos de hoje. Ruindades existem, vamos, sempre assim. Mas sobem e apagam como um fósforo. E hoje eu comprei uma caixa deles. Cabecinhas vermelhas dormindo entre si. Prefiro a isqueiro. Começa pelo nome: um faz bem pra saúde e o outro parece erro de português. E eu os adoro. Até debaixo do caldo verde.
Uma grande avenida vazia bastou pra que me brotasse amor. Profundamente amor. Vejo o asfalto e sinto que sou um pouco dele, o negro pisa o negro. Ao lado, luzes que viram riscos. Estou em alta velocidade. Quando pára? Nunca, por deus! A fome dentro de mim, as idéias que me corroem o estômago e os es. Coisas e coisas. Dias e dias. E.
Viajo amanhã. Pra não mais. Fica algo de novo? Só. O velho não existe. Mas digo que sou muito chegada a uma tradição. Elas foram feitas pra sempre e eu consigo, assim, de um jeito peculiar, dividir o passado da tradição. E digo também que, certamente, quero fazê-los crer em coelhinhos e em noéis e que os almoços sejam com os de antes, mas não quero olhos pro antes. O depois é tão mais irresistível e repleto de possibilidades. Sim, como o cantor, caminho pela lua, mas de frente. Ele que me perdoe. E a de hoje está tão enorme e laranja e por entre as nuvens que não vale a pena. Possibilidades e.

19 de mai. de 2006

Dilemando Guilhermina sorri. Sorriso cheio de emes... e dês de seu Dilermando, não o do dilema, mas o amigo da prima. Com o chapéu do lado, não teve como não se sentir a própria Pombinha Branca.

18 de mai. de 2006

Não me quis mais. Disse Vá e eu fui e depois me ligou pedindo que eu levasse seu pai ao médico. E eu levei, lógico. Seu Ricardo sempre me tratou muito bem, mesmo com toda a situação, com o anel. Era como filha, sabe. Não teria porque negar-lhe ombro. O Meu Ricardo sim, sempre foi amargo. Não puxou o pai, só no nome. Mas, pra engolir, eu sempre coloquei muito adoçante nele. É, não ficava aquela delícia de mel, pois o aspartame, como todo mundo sabe, dá uma travada na língua, mas era um docinho que me aprazia. E que nunca me engordou.
Eu tive amigas. Felizes, repletas de açúcar, filhos e aspas. Mas eu não. Quem me completava o tanque era o Meu Ricardo, com sua mão nervosa.
A gorda era a outra, a dos filhos, da vida água-com-açúcar.
Ontem, enquanto esperava Seu Ricardo fazer seus exames, eu comia o cachinho de uva que tinha levado e pensava na vida. Como passa. Já nem lembro mais de Ricardo, mas de vez em quando ainda o levo ao médico.
Todas as noites eu fujo pra não te ver na cama. Espero, espero e só encaro quando o sono já me pesa tanto que não consigo sequer levantas as pálpebras. Vida dura essa de sem ti.
São quase três e eu aqui, nessa luta pela chegada ferrenha de um sono inexistente. Culpa do café? Não. São as folhas de papel reciclado que eu comprei há meses que não me deixam descansar. Preciso ordenar minhas idéias e voltar a escrever errado por linhas certas. Não sou deus, nunca fui, não pretendo começar hoje. Eu gosto de mim assim, por entre todas as coisas, passando e dando tchauzinho de miss mas com olhos de tuberculoso, que tudo captam, tudo vêem, tudo ouvem, mesmo que em/strelinhas.
Olhinhos de beijar
O sorriso de moleque e esse cabelo que não pára.
Sente o que quero dizer: senta e escuta o eu te amo que há tanto quero contar.
Quando menos espero pega minha mão como de cristal e vê e eu paro pra te ver com cuidado e sabe disso: então vem de aço e sinto o sopro de quem sabe se tornar essencial. E quando bate a luz sobre ele, a vida se esclarece na frente dos meus, seus, que beijei.
(Desponto)
Tão lindo sou sua quando sorri meu mundo nasce toda vez
Olhinhos de amendoim torrado de tão quase preto como o cabelo de índio na cara
Quero toda sua cor e ser feliz como a flor que você me deu quando eu estava triste
Percebe tudo olha pra mim e vê tudo nossa cabeça igual e as mãos também meu olho brilhando com as estrelas que pescamos da nossa rede
Seu som de luz me faz chorar de bom a mais por poder te olhar de perto e dizer o que quiser e sempre quis até o fim
Vida a um.
Eu gosto de quieto, ele de tevê. Venho falando e ele dorme.
Põe o copo na beirada da pia e eu quero dentro e o meu ardido me deixou quando te conheci. A briga, novo modo de fazer. E o beijo e o aroma que apaga o corpo, o tapete e a dor.
Momentos e momentos.
Na real, acho que os dois precisavam. Eu de alguém como ele e ele de alguém como mim. E a gente se dá bem, adora e devora assim. De garfo e faca e colher.
Diz que me echa de menos e eu o echo demais. Mesmo sem ter idéia do que isso significa. Só existe um absurdo. Em todos os sentidos, todos os 5, e os dois.
Não pensar. A arte de se desprender da casca conceitual a que te atrelaram. Há milênios. Pelo bem às vezes se peca. Sei.
Não pensar. Ou pensar acintosamente o contrário de toda a sistemática da madeira. Tronco. Nodosa seria se não se libertasse. Como seriam os próximos milênios. Bons anos. Frio. Mas a saudade não deixa morrer. É a regra do amor e a folha nova surge. É setembro.

17 de mai. de 2006

Quarta. Como se sempre as quartas fossem assim. Acostuma-se. Antes, dias meios. Hoje, como quartas. 4. E Marisas. Prazer pelo símbolo. Mas não gostaria nem num cachorro. Há um peso diferente. Esses com –sa. Elisa. Luisa. ...
Dias frios mas bons, o cotidiano que mudou tanto que não há mais jornal em papel.
4-2-30.
O de hoje diz que mataram suspeitos. Se, suspeitos, mas a cabeça de alguém tem que ser espetada.
Andar na grande avenida agora. Não na querida, mas em uma outra que tem pessoas de sapatos com nomes na lapela. Como quem lê Machado, essas coisas.
E a noite é para pegar fado. Amália.com. Com nome de fada. Hinos de futebol de escanteio, por ora, em fase de copa, é um pouco demais.

Note: querem-me morta na felicidade de um anel dourado. Jamais. Pois eu me esforço e tiro leite de tudo isso. Vou que tenho reunião do partido.

16 de mai. de 2006

No hoje penso do ontem e pasmo. Fico verde como a falta da esperança que temi. Na rua, uma savana de pessoas sem irmãos. Foi foda. Mas passou. Acho. Dizem que é a última que some. Eu fui uma das primeiras a chegar em casa. O instinto me pegou fundo. Passo. Sem passagem. Debaixo das patas do fiel ginete, irmãos humildes e submissos.
Vejo com olhos de ver as coisas feitas para serem vistas. Pode ser que ninguém mais veja, como mim, como a história das cores, será o azul o mesmo? Mas decido voltar a maiuscular as letras que crescerem pelo uôrdi. Dá-me trabalho hoje prezar pelas minúsculas, selecionar tudo e ´pois alterar. Numa cadência de morte: ctrl t, shift f3, duas vezes. Palavras que-crescidas. Engasgo. Rá.
o açúcar de fátima consegue ser doce mesmo no asfalto. ontem, no almoço, conseguiu parar os ternos de andarem para ver uma joaninha (nem era a vermelha, era a laranja) na escada. viu, no concreto, o abstrato. e sorriu. e ainda fez com que voasse, pra viver mais. fátima, que pra ver beleza, tem olhos na nuca e nas mãos.

12 de mai. de 2006

a estranha bailarina de ferro que olha pra cima com sainha de tule e fita no cabelo. o ferro, o pano. as macias mulheres em suas tinas com toalhas nas mãos. a luz que pinta. queria ser pintor. queria ser degas e poder colocar a limpeza do corpo de sombra do fim. na tela. a mulher-só fica triste por ter como companhia um cálice. absinto. sinto. mil bailarinas que rodam e exercitam-se entre si. sempre, elas, sempre, mulheres. ao homem-si. o melhor.
a felicidade está em meus dedos. e pés. no samba gostoso de ouvir, na espera pela copa, em meus olhos. sinto-me adolescer no sorriso novo que surge da escada. vem vem vem vem. carinhoso.

10 de mai. de 2006

seus ruídos seus, o caminhar de lado arqueando as costas magras, seus ossos. a língua rosa, nariz preto, orelhas: radares do negro. seu jeito de viver, as veias artísticas de sempre, o carinho de brincar de morder sem morder e de atacar sem garras. pequenas patadas no barbante. deve ver um besouro porque eu a vejo pantera de pêlo fino, olhos de deuses que ao sol amarelam e na sombra enegrecem. é grande como o mundo. com o rabo, dobro do que é, é o universo. um país entre bigodes que tocam o chão. é poderosa quando olha de frente, é graça quando a vejo de longe, é flor quando brinca: é mia quando deita em mim.
quero o limiar do limão. semear. nossa musica tão bela. brasileira. perdoem-nos demais povos. como nós não há. como nós. engulo e minha garganta fica com um nela. nó nela. pra ela só novela. cabeça fraca de tanta luz na cara. não vê o sol, nem a lua, somente a sombra dos dois enquanto vê o mocinho e a mocinha numa luta de gigantes. diamantes, seu sorriso esmeralda. amo-te como nunca, cachorra. não precisava subir tanto assim naquela escada vazada. sou arquiteto e sei que aquilo é obra de arte. escorregou, banana pra você. casei novamente. pedro me engana como sempre. e eu, vivo. por vitor moreno bacana. gosta de flor, vimos cinema de flor, beijamos beijo de flor e no final deu-me uma rosa. achei indigno. sempre se espera algo a mais num primeiro encontro. encanto de mário. hoje no almoço contou-me de quando era calça-curta, da revista careta de seu tempo, que lembrou-se de uma poesia dela por meus olhos serem negros. e declamou-me, derreti, pelos seus setenta anos de cavalheiro. laçou-me por ser terno e gravata. falta-lhe o chapéu. tomei um. agora chega, tenho que trabalhar.
dançarino que joga na noite escura ligada por luzes que brilham e apagam, um garoto de ouro sapateia sobre a pista. bate. dá. cabelo na altura dos ombros é tudo o que tem. corpo fino, músculos. bailarino da manhã. seus óculos escuros, a barba ruiva e o ombro que me deu quando mais precisei. uma ajuda no silêncio de um café, de manhã.
seria ótimo se não fosse pouco. essa liga quase metálica que envolve sua sina de morcego por ser cego, de águia por ser grande e a nós por termos horas de conversa, de manhã. o cabelo liso até o ontem, sob a água, sobre si. amo a lisura do seu trato.
está pra nascer pessoa que saiba conduzir sua vida pior do que espelho. sim, ninguém o bate, senão quebra. é o campeão. e não se pode dizer que ele seja tão feliz assim, vai. sabotador de si mesmo, um boicote contra todos seus produtos. vê e embarga. torcedor de prata, e contra, para que não haja nenhuma fumaça saindo de nenhum lugar, senão embarga novamente. o espelho que reflete o verde e o cinza e é esse um que deixa sal por onde passa e murcha as flores do país, de quando em vez. é ele que a formiga carrega aos ombros em forma chata. espelho-folha. e ela o devora, mastiga e faz caso. pouco, bem pouco. o homem pasta verde. e os ganchinhos e as patinhas que o pegam delicadamente do chão e o elevam. espelho vê o mundo sob a ótica das costas da formiga. um mundo largo, com um pouco de marrom. essa cor sem graça que é tronco mas que não leva a nada. e a sua formiga é tão educada..., após os três beijinhos passa-o para outra, tão formiga quanto.

9 de mai. de 2006

é doce como rosa. aquele sabor atípico de quem tem pele cor de barro. ontem se escorreu pela parede, seu quarto. dormiu. mas com o açúcar de sempre. caos. caos. caos cristalizado. se te largo não te pego mais. é balão. voa voa pra onde há mais frio. não-aqui.
gilda faz sexo ao se despir na frente da tela. quer mostrar seus anseios. falar de seus seios, de todos os seis que amou. uma luva que cai, um zíper que fica. gilda é super. falta-lhe a capa. mas sem, toma a forma que quer. poder nos olhos de gata, cabelo amarelo. supre as falhas no pêlo e tirando o cetim preto, mostra-se branca, clara como a parte de fora do olho de alguém que canta no mesmo tom desafinado da vida sua. logo, uma gilda afinada conta dos desastres que um beijo em outra podem causar. apesar de seu nome, put the blame on mame.
nesta terça tão florida o sangue corre pelo lado de fora. o sentimento de perda é patente. na porta, batem, ferem o batente. sorri criança, sorri senhor. dia em portugal, lugar de muitos velhos. e o sangue da terra, correndo pelas beiradas. beiras do além-mar, diz, quanto do teu sal. um se vai, outro fica, ninguém espera. nada se aguarda no século vinte e um. será que chego ao vinte e dois, já passei dos vinte e quatro, fazendo contas, não. impossível. somente se o carinho por desconhecidos assumisse a forma de vidas, como em jogos. ganhando vida de baixo de cada escada, em forma de estrela ou de doce, chego lá. com olhos secos, corpo seco, um copo oco. acaso serei uma mesma de hoje que sente falta da cidade desconhecida que não conhece. não, são lágrimas de portugal.
saímos a noite, onze e meia, perfumadas e embebidas em álcool para todos os lados, até no gel da mais nova. um cabelo loiro e comprido que ia até a cinturinha de vespa da moça. eu não a conhecia, amiga da amiga, mas fomos e lá chegando, a vespa picou. enlouqueceu a madrugada, suou baldes e voltou pra casa tomando leite com chocolate.
misto de sentimentos. podia ser apenas indiferente. não sabe qual a fonte, mas como já disse, ela é a sua foz. e está longe, muito. Tem um longo leito a seguir. e não sabe se quer que volte, pois se aqui estiver não haverá espaço para a ilusão, pode ficar diminuto em uma realidade só que até machuca. ainda mais agora que reside na verdade, nesse mesmo lugar, com dores e sorrisos só seus. por outro lado pensa em como não querer que a realidade se forme.
quando ouve o bater forte até sente o pensamento voar.
roberto deslocou seu ombro. passou pelo esgoto e doeu. roberto doeu. zé roberto sofreu. pobre zé. nome comum. prefere sempre o segundo. e as horas passam e roberto permanece na mente. sempre mente, simplesmente. parece noel. por isso e pela falta de queixo também. rá. zé roberto sorriu, mas só agora. depois da piadinha. e pelo amô sem erre que recebeu ontem à tardinha.

8 de mai. de 2006

pensei e decidi. isso não é real. um simples beijo de canto de olho na terra e umas frases literalmente soltas no espaço de um oceano não podem surtir tantos efeitos, não fosse a calda de ilusão que cimenta as duas partes. é isso. corra, menina, corra. e vá ver um filme, daqueles, e sozinha, mulher.

7 de mai. de 2006

disse da liberdade, do pensamento, das manchas. não disse do que houve, da origem, do dizer de alguém. quando pôde querer viu-se no oeste. um duelo entre fantástico e gigantes. cada um à sua moda. extraordinárias com mantos ao invés de prata. um brilho longo como a coberta. num frio de viver por. entre palavras e letras boiando entre o caldo quente e o ar compacto. sou gelo e queimo. amo e tirito.
quem não tem idéias, canta. mesmo sem música. ouviu o trecho que ele lhe gravou. curtiu. carne seca. sem fim. montou no cão gigante e correu pelos ares. bons ares de artista. não se sabe do quê pois ataca em todas as frentes como um time de um só. sempre na defesa, retranca. dança sob o sol azul, o céu laranja, a trança. quis viver mais. precisava de outro cão. um robusto, sem sinais de cansaço. poderia servir mil vezes, mas não assim. talvez o sono esteja pegando o seu pé novamente. mas mesmo depois de tantos cafés. lembra-se do gosto que deixou, o cheiro, o negro. corre pela rua de cima, mesmo sem ter saído de casa. e sonhando nota que não há fim. só começo e um sentimento tão pessoal de ser, uma música que finalmente começa. pede ao tempo para correr junto ou que sonhe com ela. sendo sem verbos novos, sendo arroz com feijão. mesmo assim quer sempre e com sua idade talvez devesse ter mais finais. uma placa 6. um início de besta. sempre um começo, recomeça a ouvir o cheiro do café, do ar bom do artista que a desenhou. desejou. a festa ainda acontece, a dança acabou. marina se chama quem não tem fim.

6 de mai. de 2006

ao vê-la no quarto branco esqueceu de tudo o que algum dia compreendeu. a vida assim, indo, frágil pra caramba. sua vida, como numa ampulheta ao contrário, contagotando. digo que deu pena. não sei de qual dos dois. nem ano de vida a dois. os dois. pena. quatro letras. ambas. e em 16 viraram três. ele.
foi triste ver a despedida entre flores, ver a lágrima de um regando os cravos do outro e o cheiro do incenso que vinha da voz da batina, antes de fecharem elisa. fecharem um, pois fecharem dois foi quando do cimento, terra e grama. além dos presentes que deixaram, com dizeres de respeito, como em 1º do ano, à uma iemanjá do seco. exceto pelos olhos do moço que, duvidam, se recupera. um homem sem sobrenome por ora. mas que chora e pede um bilhete de volta. no tempo, no céu. e exceto pelo céu que o fez olhá-lo pra que visse a chuva descer ajudando a assentar. a terra, a grama, a dor. a água contagotando com areias moles seguindo o sentido correto. pela primeira vez.
está repleta de si. uma vida que entra pela frente e enche os olhos. olha para o lado e sorri tanto que desmaia. e acorda no início de uma estrada que tem dois caminhos, e, como boa filha de bohan, opta sempre pelo maior dos dois, para dar tempo de desistir se quiser. e o líquido que acaricia como uma avó que não teve e a fumaça preenchendo de maneira sinuosa o espaço vazio. som de vidros. esses minutos que duram anos. profeticamente: em verdade, em verdade nos diz. é ela, santa ela, que não se crucifica. o passado foi. como a bola do jogador que foi indo, indo e ío. a mulher de hoje ouve noel rosa dizer do apito de sempre, da simplicidade da vida comum e chora gargalhando. certamente a fábrica e o amor foram frutos de uma vida tão repleta quanto essa de hoje e de ontem. feita de dores e sorrisos e meias e frio: a mais completa realidade.

4 de mai. de 2006

verborrágica.
queria ter um trator. só hoje. um petit trator. e passar por cima das coisas que não têm explicação e ter ainda uma razoabilidade fulgurante. isso. queria isso sim. e hoje. pra ontem.
vou ter sono. agora não. daqui a pouco, bem pouco. há uns minutos atrás quis sumir ao ouvir a sua voz, ainda que gravada, e ver o seu rosto, de diversos modos e ainda que por foto. sua beleza, o que sempre me encantou, não sumiu junto com o meu pseudo-amor. e isso é uma droga. como a nossa divergência sobre esse mesmo tema. sei que daqui a uns minutos eu estarei bem, sob a água quente, e depois de alguns outros a mais, sob as cobertas igualmente quentes. mas agora, que lembrei do seu timbre e dos seus dentes grandes, confesso: balancei. como as pontes americanas em dia de tufão, sim, aquele mesmo povo do qual sempre a gente dava risada.
mas também tudo pode ser o vácuo do não te ter (ou a outro, sim), essas coisas, mas hoje digo que, apesar de nunca ter amado, aqui, nessa data, mesmo dia que tantas emoções me trouxe, talvez, veja bem, talvez, você tenha sido a pessoa que mais me aproximou de um sentimento desses. logicamente, se tirarmos toda a loucura e o desrespeito, certo. por favor! não esqueça de tirar isso. se bem que teve aquele outro, um lá, mas que deixei escapar dos meus dedos do pé de tão irresponsável que fui com o sentimento não-meu. desse eu não tirava a loucura nem o desrespeito, pois havia, viu, havia sim, sanidade e respeito. mas não deu certo. hum. de que adianta... me diz.
não há fórmulas, sim. não tem. cada um sabe onde o calo lhe aperta e já é amanhã. tudo passou. como um vento sem graça, que ninguém percebe...
até chegar o dia em que a mesma brisa se cansa e derruba uma ponte.

2 de mai. de 2006

canta miguel de um lado: quis centrar. foi chantagem. sofreu. morreu. sofre. o coração, esponja, espirra dor sangue escuro. tem medo de ser assim coagulado. escreve e passa. o estômago dói, então, sente a água levar toda a impureza que tinha dentro de si. pede: perdão deus pelas noites sem oração. sem nem sinal da cruz. faz tempo que nem te lembro. o que será? demônios que nem há? tempo de loucura retornando, mas, graças a ele (quem), em vias de ir, com o primeiro raio de verão, só que uma hora depois. tomara que você queira o meu bem.
rosa ri do outro: eu oro. coro. ui. e ai de ti. senão grito, o grito mudo dos loucos, das rampeiras. o meu. louca, não puta. e a cabeça vazia. casa do de-lá(-bo). manicomicamente minha.
e o melodrama romântico: o dia depois do qual nos falamos, miguel, foi de doer. te via em cada canto, como um espírito de filme de terror. mas era comédia, minha flor. e eu ria, ria, ria tanto enquanto te via. mas, ainda assim, tentava esquecer do dia seguinte. mas eu, rosa assim, lutei e passei. o dia depois, virou passado. foi sumindo, sumindo, porque sim. resumindo: rosa e miguel já é uma flor sem perfume e com pétalas boiando no chão.
mentiras: queria beber. ser etílica. não humana. queria dar títulos. não corpos.
uma viola na noite do interior e nada mais. um peixe ao final da semana. e vinho. tinto. mesmo que não combine com a carne. que reluz. então daria milho aos bodes e voltaria para ver um filme que só passa na avenida mais linda da minha cidade.

1 de mai. de 2006

vem me infernizar, anjo.
caímos na festa que você me deu, santo do pau-brasil raro como o que é todo esse âmbar cor de canela que me faz brotar asas das costas.
meu guarda, que sentinela meus passos e essa auréola... sabe como enlouquecer.
passa pro papel a tua mágoa
depois joga a batedeira e chacoalha a massa cinzenta.
não esquecendo da cândida para clarear
preciso dela para iluminar meu túnel
vejo uma cândida no fim desse casamento.
pela bondade, beleza, cuidado com os outros, por ser filho e irmão, pelos pensamentos, pelo olhar, idéias e peito, pelas palavras ditas, pelas escritas, pela emoção que causou, pela diversão, pelo sono de olhos abertos, pelos doces, por conseguir fazer mil coisas ao mesmo tempo, por correr sem cansar, por aceitar, por errar, por comer tudo e muito e sempre com pimenta, pela cara que faz quando tem um gato no colo, pelos comentários, pela mente e pelo brilho, pelos anos, sua sancho pança diz: zelo, como verdadeira guardiã que se preze.
o moleque fugiu. fez as malas e se foi. vagou de porto em porto e andou tanto que calos lhe nasceram e ele morreu. e esqueceu o caminhos. passarinhos comendo pão. foi triste vê-lo dormindo na porta da casa.