30 de jul. de 2006

Teleférico que nunca tivemos.
Eu no 12, ela no 3, do bloco da frente ao meu.
Seria perfeito, uma cadeirinha vermelha andante pra unir as casas, as coisas.
Como a idéia do telefone sem fio.
Helena e eu compramos mil metros de barbante e duas latas de Elefante, pra rimarmos de longe. Eu subi no meu andar e joguei a lata da Helena. Mas quem disse que ela conseguia acertar a janela do 3º andar. E o vizinho do 1º chamou até o síndico.
(...)
Seus pais, depois de alguns, ganharam uma herança (eram primos e ganharam os dois) e a Helena foi para o Morumbi.
Ligou pra mim uma vez só, de um telefone sem fio, e disse que tinha ganhado dos pais um carro. E que foi ela quem escolheu a cor. Vermelha, como o nosso teleférico invisível.
E disse que ele seria a nossa cadeirinha.
.
Nunca veio me visitar, depois eu também mudei (mês passado), mas continuo usando as mesmas linhas (barbante e 509-M).
Talvez não precisemos mais de tanto espaço, um pequeno chega. E os outros eu jogo fora de tempos em tempos. Você, olha. Estamos felizes deitados aqui, com mãos e pés em vermelho. É que eu sou branca e então pombagiro e você roda de beleza de nós. Minha barriga, vermelha também, mas sem dor, só mulheres. Penso nela, nelas, nela, s, concentração para não estragar as unhas enquanto escreve. Vou nelas. Amo o prata, com pedra, preta. As unhas carmim. Meus olhos vermelhos, sangue. Filtro, só branco.
.
Seu tamanho é descômodo, ou incômodo. Nem mais nem menos, ruim só.Encantada com o dia, compreensivo. Algo tão bruto, tão superior, cheio de boas notícias.A falta de ideais. E quando vem um gesto, vem um brinde. Em sentidos outros, diversos. Comemorado.Deixa-me à vontade, com.
.
No dia lá, histerias, quis sair correndo daquelas plantas. Foi como regredir ao passado, ao útero, mas com o mesmo tamanho. Péssimo.O pesadelo de acordar no jardim da infância, com a minha mente, meus conhecimentos e meu corpo. Mas não ser mim e ter que passar por tudo de novo. Pregui.
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Receio do dia. Falso que era, foi. Resquício de ideal, tenho o querer, mas os fatos dançaram. Foi rápido, antes não, pois era como quando a gente fica esperando a água ferver, e ela nunca ferve. Fervura da água quando se olha: não vem.

27 de jul. de 2006

(Pagadores)
Do dia pra noite ou da noite pro dia, não sei bem de quando pra onde, de onde pra quando, vi outras cores debaixo do autidór, encostadas num poste.
Parecia propaganda de alguma coisa das boas. O sapato combinando com a parede, ele, comigo.
Passei de carro e fui dar a volta no quarteirão, essas coisas são assim.
Mas,
contra-mão, contra-mão, contra-mão,
que país é esse...
Dei a volta no mundo, ao, voltei, já não encostava mais no poste. Esperava-me passar.
Então, deu sinal para o meu carro preto, eu parei, taximente, e falei a minha verdade.
Que tinha dado a maior volta só para vê-lo uma vez mais.
Ele, então, disse a sua: fez promessa para eu passar novamente.
(...)
Hoje saímos pela quinta vez. Eu a pé e ele sem ligar o rádio do carro até o dia 7 de setembro.
Isso que é sintonia.

26 de jul. de 2006

Lago de lã caiu em si, amaciando
Ovelha líquida desenrolou o novelo de mar de claridade, possibilidades, odes à cor invisível
Ostensivos arrepios adoçam a selvageria dos terrenos
Bolha quente no frio molhado
Berra: seca e corre e bale
Resto de calor primo.
Querer aqui, nadar de costas contigo

22 de jul. de 2006

Primavera-bougainville da janela.
A ilusão pertence a quem ouve falar e deduz, com coisas rasteiras, lugares e fases comuns. Não, cabe muito mais do que isso na colher do lado.
Colhe em canteiros de plantas frondosas. Como massa para flor.
Seduz os passantes, iludidos por olhos, não por pães sem sal.
Falo, fala. Quem ouve demais falha, a culpa não é sua, eu só conto.
Só mudamente.
Seduzo o português, em outra língua, sabe-se lá.
Sei do raio da rosa da criança de patins, paralelepípedo da casa de chão. Cinzas.
Quando chove, preta. Pretar.
Te preto a cara e chamo pra jogar sobre o verde da porta ou do feltro. Te filtro bem. Purificou-nos o dia em que, seco o chão, borboleteamos por sobre o muro, o tempo, ambos cor de peixe.
Primaveras sem espinhos não têm.

16 de jul. de 2006

Subindo a escada de massinha clara, com pequenos brilhinhos nela, a porta é a da direita.
É uma daquelas portas grandes, mais larga do que o normal, que tem um olho-mágico. Aliás, por falar em mágico, o lugar tem o dom de fazer com que quem ultrapasse a madeira escura se sinta muito bem.

A porta faz nhéc quando se mexe, barulho da preguiça que pegou do antigo dono do apartamento, devia ser um senhorzinho magrinho, que gostava de tomar café-com-leite e bisnaguinha à tarde. Certamente ele ligava o rádio às 16 horas e ouvia o programa de jazz instrumental até o pôr-do-sol, enquanto molhava a bisnaguinha de leite no copinho morno. Ele já tinha corrido muito antes, por isso, hoje, ele vivia esperando o rádio ser ligado por ele às 16 horas.

Mas, o chão é o meu chão preferido, de tacos, uns claros, outros escuros, e, pra ser sincera, não é um lugar muito grande não. Uns 50 metros, chutando alto, mas dá pra jogar futebol com a bolinha feita de meia enrolada.
Da porta dá pra ver o apartamento quase inteiro. À direita está a cozinha, de chão vermelho, coladinha na área de serviço (um varal e um tanque). À esquerda o quarto, o banheiro, um armário e, em frente à porta da entrada, a boa e velha sala, com a sua janela grandona.

A minha casa terá o meu jeito e será só minha e da gata. Aí um dia, quem sabe um dia, eu possa pensar em dividi-la com alguém especialmente combinante conosco.
Por ora não. Resido na cabeça minha, sozinha. Eu e a gata Mi(m)(nh)a.

14 de jul. de 2006

Brigadeiro é meu docinho.
Seus dentes brancos são a alegoria do meu viver.
Pra ele cozinho o que seu querer pede, dou de beber, enrolo seus charutos, massagem nos pés.
Meu heróis de batalhas inventadas.
Pra me fazer graça, ele me bate continência quando volto da feira. Brigadeiro gosta de pêssego, diz que sou um. E à noite arranca a minha pele para repousá-la, como santa, sobre suas unhas.
Minha sala sabe tanto de você. Seus gostos e horários, a cor da sua pele, seu falar.
Meu quarto sabe tanto de mim no escuro, na saudade, no chorar ao lembrar do gosto das alegres horas brancas.
Nossa casa de um dia teme pela chance de ruir.
Pequena, real, por entre vozes azuis.
Ouvimos perfeitamente.
Mesmo que não seja, é.
Sei de coração o que vem do ar que soltas em forma do que nos alimenta e separa e junta. Noite que não cai. Sorri-de-perto.
Teu jeito reflexivo não sai do meu pensamento e eu sequer lembro dele.
Sei bem ainda como me senti quando ele encontrou-me. Um raio quente de cortar a carne minha.
Penso nas idéias descartáveis que já tive, fujo delas, escondo-me, mas, às vezes, as danadas ganham de mim de lavada, de zero mesmo. E você fica aqui, ao lado, tocando a ponta do meu ser.
Te leio dizer que não. E sim, quero mais é ler e inventar o contrário.
Ricocheteia,
Chato.
Aranha de ti, enredeia cavalo, meu!
Come grama paulista
No birote do cabelo de avó.
Não vou, já disse.
Foi quando você sorriu a derradeira carta de amigo.
A mim.
Trova chora amor,
Nada me importa mais.
Trova chuva dor,
Nada mais me importa.
A última se foi e, em menos de mês, coou.
Pano duro e rasgável – limite da razão.
Ao invés, o que passa é cascalho ou pedra (em líquida face ou versão).
Troco enxergar por viver.
Ensinam a dar o laço no cordão do sapato, mas ver não se demonstra em diagramas.
Quem tudo tem pode bem não saber a um palmo, olhos roxos para frente. Tanto que apanham...
Despem-se da responsabilidade que cabe ao detentor das pernas e braços.
É inadmissível cegueira assim.
Vejo no ponto outra voz. Vila de quem pensa no valor da vida com graça.
Homem doce pede perdão pelo açúcar que despeja nas almas de algodão.
Adora-se, queimadinhos.
Vila que caminha pela praça deixando cada um na sua.
Com 15 ouve o locutor dizer aos ouvidos que a noite choverá.
Aos 40 lê os centavos da maçã descerem.
Paralelos no enquanto.
Quem dirige é quem diligencia a favor do vento que sopra na direção do peito que importa.

Mão sobre a letra - apega com agilidade.
Ando romântica esses dias.
Seu nome é claro, todos sabem. É um nada cotidiano, que rima.
Por ele menti até para mim. E conto. Um. Dois. Por aí.
Eu não soube como não me apaixonar... Mas não confio em esmola de mais.
Não que seja santa, mas sou uma despreparada nesse quesito.
(Ão com ão: dã)
O que há sem seu ombro pintado
Seu peito molhado
Por trás: elefante, garoto gigante
Cabelo pro lado, meu gato alado
Perturbador
Estivador
Aficionado
Moreno curado, te quero deitado
Ao vento do ventilador, espelho sobre o aparador
O quarto calado
Vida vazia sem você ao meu lado
Nem te gosto mais, sabe disso. Queria um beijo de novo, desses sem compromisso, num dia normal, desses sem aniversários ou ataques, aqueles dias em que nada poderia acontecer. Nem sei pra que, certamente algo que foge.
Tua nova fase. Palmas para nós. Me ajudou a ver de fora, eu vi. Não tem pé, não tem cabeça. Prometo querer aos pouquinhos. Chega de pirotecnia.
(Declaração)
Ímpar. Mas um par. Cada qual com suas cartas, respeito-te. E seres, antes de tudo.
O tempo da minha vida, contemporânea a você.
A cor do mel dos teus olhos derretem minha barriga e assim derreto a sua, derreto-me na. Quebra, conserta, concerta, me faz cantar no trânsito, na simplicidade de um dia de chuva, na.
Mando embora tudo o que houve, pessoas da sua frente, mostro-te o Nilo, nasço de novo. E reescrevo a história da vida, poupando-te lágrimas.
Arrais amador, torna-me amante, ata-me. Nosso bem nosso. O encanto do possessivo comum.
Navegarei no seu rio e catarei as pedras, o caminho que deixar, se deixar, se houver. Se.
Hipóteses me namoram. Eu não. Nunca. Ainda não o conheço, mas eu exagero-gero-sigo.
Um castanho, uns olhos estranhos, Minas no sul da rua, te queria chorinho, desde que sorrindo.
Um dia de cristal, transparente e que reluz ao sol.
Do branco eu vejo passar o pequeno velho correndo devagar.
Da rua sinto o calor da casa, o abraço de boas.
De dentro de mim: sorriso.
Olha o céu, corre. Não sou eu que digo. Respeita, tiro o chapéu, senta.
Um dia de cristal, com anos de duração como boa pedra.
Deito aqui, ali, e vejo meninas de azul e branco e mochilas crescendo pela manhã, crioulos no malabarismo da cor.
A noite diminuiu, é meu período solo.
Um dia de noz, calórico, em pleno julho.
Queria (a) vê-la suando na terra. Viva por ser.

9 de jul. de 2006

Seria demais dizer que sofro. Não peno. Quem tem é galinha e eu quero mais é voar.
Galinha não voa. Só sobre e as pobres são lindas demais, queridas desde sempre, adorável d´Angola.
Preta com bolinhas brancas ou não: pontos de vistas.
E assim, vê-se por outras diversas e tantas janelas o mesmíssimo quadro.
O otimismo que já prendeu, hoje é bênção pois faz sorrir e pensar em como são lindos os pequenos vôos.
Pequenos como os de galinha, mas apenas pela falta de prática e não pela impossibilidade das asas. Ando meio enferrujada.
Só isso.
Te ver foi como voltar pra escola
Brindar com vinho a casa nova
Correr de jeans e não ser bobo
Mentir sem agressão
Vestígios de ses
Caso fosses
Perdido
Mas continua a ser o homem
Mais bonito do universo
Moreno de ouro
Abalei ao te ver
E ouvi-lo dizer que o que queria estava
Na sua frente, em exatos um e cinqüenta e oito

Há sempre uma ferramenta para cada situação.
Meus olhos ardem de tanto que eu chorei. Naquela tarde comemos sem ver o que era aquilo. O que valeu foi o ar do lugar. Nem reparei no endereço.
Suas mãos. Os ombros.
Saudade de sermos um casal de anjos sem asa. Sob a mesa as migalhinhas do que foi vivido. Pequenas amostras do que seria viver no paraíso, ou no Centro.
O tempo correndo contra, nós fugindo. Lados opostos na hora do adeus.
Vontade de voltar a seguir o mesmo ladrilho dos teus pés, encalço.
Voa para mim alma. Pede pra ficar, atrasar, parar o tempo, voltar, no tempo, tudo tem o seu.

1 de jul. de 2006


Eu vou.
Regina rainha amo a minha
Olho nos olhos doces e tenho dó de você
Mulher dominação dominada não dominante
Sua dor é latente mas eu vejo
Fora daqui com isso agora
Senão morre e eu não quero isso

Regina rainha amo a minha
Ela e sua loucura doce caminham
Lado a lado com livros e o cão
Livros dedicados a ela

Regina rainha amo a minha
Já te cantei como santa
Hoje te vejo baqueada
Queria impor as mãos e te curar
Levar-te para a grama, rezar, regar

Desejo tanto bem e quero te ver feliz e te enterrar com o anel que você me deu de herança num momento de loucura. Os brilhantes são seus, a dor é sua, quero-te livre da mordaça de ouro e que o brilho reflita uma moça que não passou. Pelo que você passou.

Regina rainha amo a minha
Antes disso reduzo a mulher elegante
Boto-a na caixa de remédios italiana
Brindo pelo encontro de sempre.
Cura-te a ti mesmo. Volta sã.
O cobre da tarde cinge-me. Encolhida-mim pela grandeza de ser. Mundo. País sobre as patas, suas duas, sem paz. Louca que não rompe aos dez graus. Vejo-me subindo a escada de mil pedras com vocês.
Mãos dadas circundam os extremos, penso que seria pouco, ou nada, sem os olhos conhecidos, os ombros que dão aos outros mas não o resto.
Faz falta ter um. Regalo-me com vinte: sorrisos, líquidos, mesas.
Vida em porções. Eu estou satisfeita.
As que me importam têm seis letras. Bastam-me. Regalo da vida.
Mão de fogo. Calor que cobre nosso dia. Vermelho.
Eu sou você quando dorme.
Vai vai, chega disso.
Despeja o regador em cima disso e olha pra frente.
A florzinha cresce, fica maiorzinha e vira árvore.
Não, talvez não assim.
Diz-se que muda vira árvore, flor não.
Sobre sintonia, as verdadeiras nuances da vida, afinidades. O que faz com que os afins se unam.
Não posso com lugar fechado, cinza no chão e paredes altas, com máscaras e música ruim. E olhos claros demais emoldurados por cabelos escuros e novos demais, mas com idéias tão singelas que não valem a minha saliva. Não entendo qual é mas hoje eu quero falar mal, e vou, porque posso. Uma pessoa pode tudo e espíritos livres aglomeram polvilho.

Falar de cor, já disse. Falar de contra, disse. Já foi dito. Mas diz o dizer, fala do quê. A letra do alfabeto. Aguardo a minha Roberta na vida.
Ascoltami, ritorna ancor ti prego.
Se eu te pegasse num dia como o de hoje, te emagreceria e te faria me engordar.
Era aniversário seu e ela ligou terminando o n)amor(o. Pôs os sentimentos na batedeira e precisou de um dia inteiro para conseguir colocá-los na tabela. Primeiro feliz pelo toque, ´pois estranheza pelo tom, então susto pela notícia, aí dor pelo fim, lágrima pelo frio. Dor, dor, dor, por um, três dias, sol, lua, sol novo, um ano passado e ódio. O que ficou. Como se aos seis anos a mãe criticasse seu gigante de batata, ´pois superação. Mas aconteceu, depois de tudo, tudo outra vez, mas era uma ela com outro sobrenome.
Uma mulher negligenciada mata. Não morre, nunca. Não se arranha mais do que já está. Ela fere com unhas e dentes e arrasa o que acha.
Uma mulher negligenciada tira forças do útero e acaba, desbanca, se vinga, e aí sim, só depois, sorri e, calmamente, o sol sai de trás das nuvens do pouco-caso despendido a ela.
E, depois do caos, a mulher está nova, outra, sabida, pronta para ser novamente negligenciada e voltar a ser o que sempre foi. Uma que não sabe o que quer e que precisa de alguém que lhe diga:
Que a ama
O que fazer
Como pensar
O que ouvir
O que ser:
Uma mulher negligenciada.
Sua vida hoje é escrever. Dizem.
E hoje ele não escreveu. Deve ter se perdido em algum dos cantos de si a eloqüência que era o mato de ontem, hoje, rara pimenta. Não há.
Pede: esqueçam-se de mim. Hoje eu sou eu, só isso, e, talvez por isso, sinta essa tristeza infinita em mim. Não por ser eu e sim pela constatação.

E o deixam. Com suas unhas grandes, os cabelos grandes e a barba até o pé.
Cumpriu.
Roxo
Passa o centro pra trás. Eu quero passar, mas não quero que isso me aflija. Que tristeza imensa eu sinto nesse fim de tarde. A incerteza do amanhã, sendo ele amanhã mesmo. Será que vou, será que fico. Disseram que seria o fim. O meu, ali. Mas nada fiz. Tenho muito mais fé no meu taco do que em qualquer santo de pau. Mas peço a são jorge, para que cuide disso para mim. Delego.
Por que existem essas coisas. Não pego. Qual o prazer.
Onde andam aqueles de lá. E os de cá. De repente você percebe que nasceu sozinha e que isso é algo que você deveria ter descoberto antes muito antes dos dez. Mas aqui está, já feita, chorando no canto e pelos vários de que é feita a sua casa. Sua, vírgula.
Nada do que tem é seu. Ainda não. Nem esse corpo, o qual, aliás, nunca o foi. Teve sempre mãos sobre ele, dentro da pele, fazendo graça para chamar atenção.
A vontade de morrer no banho não foi boa o suficiente para levar-me ao box. E pasmo ao ver o relógio caminhar em voltas e já é amanha e, hoje, mais um dia meu que perco por ser idiota. Ser estúpida: qualquer pasta me faz tremer.
Deve ser o frio. Nunca funcionei na neve. Somente com correntes. Sou pneu da vida sem vida.

Tantas palavras na mente. Preciso de papel, do barulho da grafite. Expulsar o barulho de dentro de mim. Esquizofrenia.
Despretensiosamente Miriam não pode me ver na frente. Nem ao lado.
Meu sorriso a faz correr e o que peço com jeitinho não faz. Se a mando, desobedece. E eu amo.
Deliberadamente. Por ser ordem minha se esquece de lembrar.
Miriam é má. Maleducada Miriam.
Ela e seu nome de farinha.

Nossa hora não é essa. Nem aquela, por ela, não há hora. Eu não vejo.
Ainda deve ser o que não é. Tento.
Pego sua mão e a levo para comer milho verde na estrada.
Sua vontade é o meu prazer.
Dobro o meu corpo sobre ele mesmo e alcanço do raso uma flor cor-de-rosa
que maria-sem-vergonha chama.

Maria queria ser mulher
Miriam é pedra
Eu, morro, e calado de Miriam e Maria bóio
Mudas de mim
Parece de propósito e, a propósito, sorri.
É a única que com gênio decide o que quer as três da manhã. E faz.
Eu, resignado, obedeço.
Quer sair, quer entrar, abro a porta. E desejo o seu bem e agrado.
Ela sorri com seus dentes pequenos. Impossível. Eterno devoto.
Peles diferentes, combinam. É meu cachecol para os dias frios.
Não permite meus olhos em outro lugar. E deita-se sobre o jornal, faz barulho, derruba e quebra. Mas seu som de festa desestabiliza. Um sino dobrando os joelhos das pessoas por onde passa.