18 de jun. de 2015

o caminhão verde da mudança não aparece nunca.
fico olhando pro relogio de minuto em minuto - se falasse de 5 em 5 minutos seria mentira.
sou paranoica e sempre acho que na mudança o pessoal vai mesmo é sumir com as minhas coisas.
de que adianta falar que é desapegada e ter só um manto de inverno se com as poucas coisas que tem existe um apego hiperbolizado?
era preferivel ter mil coisas e as perder no meio do caminho.
.....
sei que já passa do meio dia e nada dele.
até que dá 14h e plim. ele aponta lá na esquina, de macacão azul e cabelo preto meio caido na testa.
quase que nao o reconheci de uniforme. como pode ne? uniformizam as pessoas realmente para que elas percam a personalidade. muita sacanagem. ou nao também, o foco da conversa nao é essa e sim a mudança.
oi - eu digo. e ele: como vc está? to bem - eu falo. hum - aí já é ele.
dai reparo que vem vindo um super caminhãozão verde na direção dele e vruuummm. eita, essa foi por pouco hein - diz ele. e hahah - essa sou eu.
e a gente sai dali, para almoçar num vegetariano que tem na voluntários.

se for escrever sobre a vida que eu levo ninguem leria. mas como acho que ninguem lerá vou por.
nem li e nem lerei.
dupla.
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acordar às 4h30, fazer cerimonia para Sri Gaura, cantar. 12h, fazer cerimonia para Sri Gaura, cantar. 18h, fazer cerimonia para Sri Gaura, cantar.
e fim.
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tá que no meio tempo sem fim tem os sites que me consomem a alma e tem a minha falta de habilidade em lidar com um cotidiano tão nababescamente simples.
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e acabo por nao fazer nada da simplicidade e só complico. e vou dormir na hora de acordar.
assim que é. incapacidade plena de lidar com a vida. parabéns pra você.
escrevo para poder entender quem sou, como estou, qual a visao de mundo que tenho naquela fase.
dá pra ver que antes meu mundo era cor de rosa e vermelho sangue. extremos.
hoje meu mundo é preto e branco. tirei o nhenhenhem. fiquei com o que há.
o preto é ELE. Jay Sri Krsna. o branco é a ausência Dele. E é o que não tem nenhum sentido. existe maya-branco. e a verdade-preta. que eu espero encontrar eternamente e que me falta fôlego as vezes. dai fica tudo branco, muita luz. lá vem o sol, tchaptchura.

a real é que nunca acreditei no amor. e vivo no amor que acredito. o amor possível. entre duas pessoas malucas. que talvez nao se amem como é tido o amor romantico. mas como o amor é. feito de dias quentes e frio. de realidade e karma.
porque num mundo-hospício onde doidos sao normais, ser maluco é uma benção. e eu acho que a recebi.
sou bem loka. e me deixa em paz.

qual seria a intenção de se aproximar? sinceramente. olha pra si, e fala.
vontade de resgatar o que já está morto em mim.
como a mãe que aborta e pede para ver o feto antes de jogarem fora. no lixo.
sim, essa pode ser eu. nunca abortei. fetos.
só amores.
matava-os antes de nascerem, antes da primeira folhinha eu já os engolia.
é assim que é. diz o mapa, dizem as linhas, e eu também digo. porque por mais que fosse inconsciente era nao. tinha bastante de consciencia de que aquilo ali nao era pra mim nao. que eu tinha q sair pra lá, pra longe, pra outro mundo. ruas pequenas, corpos pequenos.
gostava do além-mar. mas era mais pelo além do que por ser portugal. mas so sei agora, conscientemente.
antes era um oba-oba. como é a vida de quase todo mundo. nao justificando. mas já dando uma letra de que gosto sim de passar um pano nas minhas coisas, só porque sao minhas. e eu cuido que nem gatinho.

engraçado me reencontrar com quem eu achava que era
nunca fui
era um oco e fim.
dó de mim.
da crença do que eu era. hoje nao sei. nao sei nem se sou. sei que aquilo foi.
só me entendi parecida na visão, doce, que ainda tenho. isso me aproximou daquela lá e me deu mais pena.
pena de galinha.
nao como mais carne, muito menos de galinha, que parei primeiro.

.
Eu com 33. Ele (salvo engano) com os mesmos 33 também. Mas tão outros. 18/11 e eu 08/11. Vim antes. 10 dias. Ou 10 anos depois. Qual a diferença que faz? Sabe-se lá.
Onde? Aqui é Rio. Lá é um tempo que passou, é frio. É São Paulo.
Eu moro há 5 minutos andando da praia. E a gente se casou sim.
Mas com outras pessoas. Quer dizer, eu acho que ele casou. Porque a gente achava que era do tipo que se casa. Escorpião-Escorpião. Mas talvez eu nem gente fosse. E muito menos que se casa. Ou você. Nunca me identifiquei de verdade com gente e com casamentos. Mas foi só depois que eu descobri o que não era. Depois de umas quase 10 fugas de altar/sinagoga/praia/terreiro. Quando ia chegando a hora da aliança o ar começava a faltar. E eu run! Quebrando tudo, me quebrando, corações.
Desde o futuro daquela época, que hoje é passado ou nem é, até o signo mudou. O calendário que rege agora é o lunar e olhando pra lua não se dá muita atenção ao que se tem aqui em baixo. E nessas o nome mudou. E eu quase que nem existo mais. Ufa.
Bem, mais fácil falar o que não mudou. Talvez uma vontade quase doentia de se expressar. Falando, escrevendo, gravando, cantando. Talvez o ego esperneando, morrendo. Ando ando. Endo endo. Dentro. Entro. E saio do lugar, mas quando vejo aquele lugar já é um velho conhecido. E caminho.
E eu vivo. Naquelas.
jivera svarupa haya krsnera nitya dasa
..
Engraçado não haver saudade. Entendo o mundo como dimensões. Não é realmente passado. É algo que acontece até hoje. Como que encapsulado no conceito de tempo. Mas se fosse pra essa dimensão e acordasse hoje aos 23 - com o mesmo mini-pensamento forjado a ferro e fogo de vidas e vidas, e da vida que tinha - bem certo que teria uma crise de ansiedade (mais uma) e haja maracujina pra curar. Parece papo de velho mas seria massa acordar com os 23 sabendo o que eu sei e blablablá. Aí eu te guardaria no bolso da frente do meu paletó imaginário que eu nunca mais vou usar e sairia cantando por aí. E não, eu não vendo incenso. Só sou hare krsna, pô. Haribol!
...
talvez a única constante na minha vida seja a mudança
....